quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dieta ou exercício
Por Alex Sander Alcântara

Exercício físico ou restrição alimentar. Qualquer dos dois fatores evitou que ratos obesos desenvolvessem disfunção cardíaca, segundo um estudo feito na Faculdade de Medicina em colaboração com a Escola de Educação Física e Esporte, ambas da Universidade de São Paulo (USP).

O trabalho indicou também que a associação das duas condutas não medicamentosas não resulta em benefício adicional na função cardíaca. A explicação dos pesquisadores para isso é que cada uma das intervenções isoladamente já é suficiente para evitar que a obesidade crônica provoque a disfunção cardíaca.

De acordo com Carlos Eduardo Negrão, diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e orientador do estudo, as alterações cardíacas decorrentes da obesidade podem ser evitadas “se a restrição alimentar ou o exercício físico for utilizado como conduta não medicamentosa para interromper o processo de obesidade crônico”, disse.

Além de avaliar os efeitos do treinamento físico e da restrição alimentar na função cardíaca, um dos objetivos do estudo foi tentar esclarecer o papel dessas intervenções nos mecanismos moleculares envolvidos nas alterações cardíacas causadas pela obesidade.

Os resultados fazem parte da tese de doutorado “Efeito do treinamento físico e da restrição alimentar na função cardíaca e resistência à insulina em ratos obesos”, de Ellena Paulino, feita com apoio de Bolsa da FAPESP e defendida em novembro de 2009, com orientação de Negrão.

O docente também coordena o Projeto Temático “Exercício físico e controle autonômico na fisiopatologia cardiovascular”, apoiado pela Fundação, e é professor titular da Escola de Educação Física e Esporte da USP.

“O estudo acrescenta conhecimentos importantes sobre o papel do exercício e da restrição calórica nos mecanismos moleculares associados à função cardíaca na obesidade”, disse Negrão.

Na pesquisa, ratos wistar machos foram alimentados com dieta normocalórica (quantidade normal de calorias) ou hipercalórica (rica em gordura e açúcar) durante 25 semanas. Após esse período, os animais alimentados com a dieta hipercalórica foram subdivididos em quatro grupos e acompanhados por mais dez semanas.

No primeiro grupo, os ratos continuaram recebendo a dieta hipercalórica e foram mantidos sem treinamento físico. No segundo, continuaram com dieta hipercalórica e foram treinados. No terceiro, deixaram de receber esse dieta para serem submetidos à restrição alimentar (menos 20% da ingestão diária). No quarto grupo, os ratos foram submetidos ao treinamento físico e à restrição alimentar.

“Após a vigésima quinta semana, os animais submetidos à dieta hipercalórica não apresentavam alterações na função cardíaca, embora já apresentassem substancial ganho de peso”, explicou Ellena.

“Após mais dez semanas de alimentação rica em gordura e mais ganho de peso corporal, eles apresentaram alteração na força de contração do coração e nas proteínas moleculares envolvidas nessa função. Isso foi evitado nos animais submetidos ao exercício físico ou à restrição alimentar”, contou.

Outros benefícios

Outro resultado importante sobre o papel do exercício e da restrição alimentar alcançado no trabalho está relacionado ao metabolismo de lípides. “A restrição alimentar em associação com o exercício físico diminuiu significativamente a esteatose e a hipertrigliciridemia em animais obesos”, disse Ellena.

Mas se por um lado a associação da restrição alimentar e do exercício físico não mostrou efeito cumulativo nos parâmetros cardíacos, por outro lado essas duas intervenções associadas diminuíram a quantidade de gordura estocada no fígado de animais obesos (esteatose hepática) e, também, os níveis de triglicérides plasmático.

“Embora a restrição alimentar isoladamente diminua a quantidade de gordura acumulada no fígado, ela aumentou a concentração de triglicérides plasmático, o que sugere um aumento na resistência hepática à insulina. Esses são achados importantes. Sabe-se que a esteatose, triglicérides aumentados e a resistência à insulina elevam o risco de doença cardiovascular”, destacou Ellena.

Segundo a pesquisadora, o trabalho permite concluir que a restrição calórica e a prática de exercício devem ser recomendadas para a prevenção de alterações cardíacas e metabólicas causadas pela obesidade.
Fonte: Agência FAPESP

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